Vanuza Barroso, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC)
Em 29 de dezembro, uma quinta-feira em que todos se preparavam para a dobrada do ano, um navio com 11 mil toneladas de cacau aportou em Ilhéus. Sábado de Carnaval, quando todos estavam ligados na folia ou longe dela, outro navio, o Pichon, com mais 10 mil toneladas importadas da Costa do Marfim, na África. aportou no mesmo lugar.
— Mas é claro. Eles sabem que existe uma enorme pressão contra. E escolheram as datas justamente para tentar mascarar o jogo.
Quem fala aí é a presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC), Vanuza Barroso.
protesto —Vanuza admite que chegou a cogitar barrar a importação na marra, mas mudou de tática. Sábado, na área em que estão instaladas as indústrias processadoras em Ilheús, os cacauicultores vão se reunir para protestar contra.
— Nós vamos ter que mostrar que existimos. Até agora, parece que não nos enxergam.
Ela diz que a importação da Costa do Marfim traz ris cos fitossanitários, mas a indústria que faz a transformação não está nem aí.
O cacau, que já foi responsável por 60% da arrecadação da Bahia, sofreu duro golpe a partir de 1988, quando foi constatada, em Uruçuca, a praga da vassoura de bruxa. A produção, que já chegou a mais de 500 mil toneladas, hoje está em 270 mil.
Os produtores dizem que a produção basta. Mas a indústria compra fora porque é mais barato, até porque, ressaltam eles, a mão de obra por lá está mais para o escravagismo.
No Congresso, cacauicultores recebem apoio dos dois lados
A briga dos cacauicultores contra a importação de cacau é velha, mas a partir de 2021, uma Resolução baixada por Bolsonaro flexibilizou as importações, segundo os produtores, por pressão da indústria.
Eles correram para o deputado federal baiano Zé Neto, que em dezembro realizou audiência pública para discutir um projeto por ele protocolado que cria obstáculos com a importação de cacau.
Vanuza conta que o projeto tem como relator Domingos Sávio, do PL de Minas Gerais. Ou seja, autor e relator são de lados opostos, mas no caso da importação de cacau jogam no mesmo time.
— Temos feito um esforço enorme para não politizar essa questão. O que nos interessa é a defesa dos nossos cacauais. O Brasil está correndo o risco de trazer doenças da Costa do Marfim que não existem aqui.